AGENDA CULTURAL

4.6.25

Calça-cagada

 


Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP

Participei da Feira do Livro de Birigui  no último sábado a convite da Editora Pindorama. O evento foi realizado no Instituto Federal, escola pública do município. Lá houve a palestra do presidente da Academia Biriguiense de Letras: Deidimar Alves Brissi, professor de Física (não é Educação Física) preocupado com a cultura e com as letras.

O nome da palestra era galante, mas ele disse mil vezes “calça-cagada” cujo palavrão adotei como título dessa crônica. A palestra tinha como foco a cultura caipira, puxando para o nacionalismo: valorização da cultura caipira como ato decolonial.

A cultura caipira está no contexto paulista, mas esparramou pelo Brasil pela chamada Paulistânia, região brasileira com influência de São Paulo. Foi criada espontaneamente pelo rastro dos bandeirantes. Não estou falando da música, mas da cultura em geral, inclusive da literatura.

Deidimar chama de calça-cagada o sujeito sem personalidade, sujeito que veste a calça e fica com a cueca à mostra. Brasileiro carregado de vira-latismo, expressão inventada pelo escritor Nélson Rodrigues,  que valoriza mais as coisas estrangeiras em detrimento das nacionais: colonialismo herdado dos portugueses. 

Nomes de  produtos brasileiros com palavras estrangeiras, denominações de arranha-céus com nomes em inglês, como se fosse valorizar o produto é uma prática de marqueteiros. Quando trabalhei como orientador de língua portuguesa no departamento comercial da Folha da Região, agências de publicidades primavam pelo estrangeirismo nos anúncios. Esse pessoal pode ser chamado também de calça-cagada.  

No começo do século 20, final do 19, era moda a elite intelectual falar francês e viajar para Paris. Havia a matéria no currículo escolar no ginásio. Após a Segunda Guerra Mundial, com a hegemonia norte-americana o inglês passou a ser tratado como uma língua universal.

Seguindo a tendência atual, o vira-latismo e a língua predominante mudará de parâmetro: será o mandarim (idioma chinês). Imitar os outros é nossa sina, não é mesmo, calça-cagada!


3.6.25

Administração da letra Z

Santo Artêmedis, irmão salesiano, dedicou-se à enfermagem, argentino
Araçatuba oficializa parceria com a Zatti para gestão das UBSs

Zanatta (sobrenome do prefeito) Zucon (sobrenome da vice-prefeita) e Zatti, sobrenome do patrono da organização social do Salesiano que administrará as UBS. A gente torce para não dar zebra. Entre Zanatta e Zatti há trocadilhos.
Essa união traz evangélicos (prefeito Lucas Zanata) e católicos juntos (à Missão Salesiana de Mato Grosso- MSMT). Uma aliança ecumênica.
A ex-presidente Dilma Roussef e o ex-prefeito Cido Sério devem estar rindo de satisfação. Os dois se empenharam em dotar Araçatuba de uma faculdade de medicina (Hélio Consolaro)

1.6.25

Por que fazer velório?


Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP

Fazemos velório por tradição, pois faz parte de nossa cultura. É o jeito como fomos criados. São explicações óbvias. Velar é abrir mão do próprio sono para vigiar o defunto, ver se está morto mesmo.

Há gente que põe no testamento como quer seu velório. Os boêmios são os mais exóticos. Como houve nos tempos de Jesus as carpideiras, mulheres contratadas para chorar. E assim por diante, é só pesquisar.

Com o advento da pandemia, covid-19,  velar defunto à noite já tornou um comportamento mais raro, fecha-se a capela e todos vão dormir, mas sempre amigos e parentes do falecido gostariam de ficar lá. Não estou falando do papa Francisco, que juntou multidão, mas de gente simples.

Um discurso de velório deve ser curto e comovente, expressar respeito, carinho pela família e amigos presentes. O objetivo é lembrar o falecido com respeito e compartilhar memórias significativas, transmitindo conforto e apoio a todos que estão em luto. Criticar o inimigo morto no velório não é recomendável. O ex-vereador José Américo do Nascimento nunca perdeu um velório e se elegeu por três vezes.  

Os velórios são um encontro de pessoas em torno de uma pessoa falecida. Ir se despedir pessoalmente do morto é uma forma de prestigiá-lo, sinal de uma fértil convivência. Atualmente, a cremação está em ascendência,  ela abrevia o velório.

Em velórios, temos uma riqueza de frases ditas durante a cerimônia, elas podem expressar condolências, homenagens ou reflexões sobre a morte e a vida. Algumas opções: "Que Deus conforte a família", "Descanse em paz", "Sua memória viverá para sempre em nossos corações", "Amado e jamais esquecido", ou frases mais reflexivas, como: "A morte é apenas uma transição, não um fim"  

Em velório de gente do bem, as grandezas e belezas são as coroas. Se o morto ou morta for um líder, cada entidade abre o seu cofre para montar enfeite de flores durante do velório.  

Há muitas situações hilárias durante a cerimônia: até bandeira do Corinthians cobrindo caixão, ou então há gente que chora para o defunto errado. O escritor brasileiro Viriato Corrêa montou em seu livro "Cazuza" uma cena onde o defunto reviveu e saiu do caixão.  Leia o livro para ver o que aconteceu. 

Velório é um rito da morte, da despedida. E tão certa. Por isso tristemente acontece. 

27.5.25

Os que estão segurando o mundo no trabalho miúdo - João Luís dos Santos - Penápolis

(JL dos Santos, ao estilo de JL Borges) 

O professor que planta manjericão no quintal,

sem veneno, sem pressa

como quem conversa com a terra —

como um bom selvagem.


A comerciária que sorri só de ouvir

um batuque passando na rua,

e pensa: ainda bem que tem som nesse mundo.


O estudante que se liga na origem das palavras,

e acha bonito quando entende

que “favela” vem de planta resistente.


Os dois senhores de camisa amarelada

jogando baralho em frente ao cemitério,

sem pressa, sem fala, só cartas.


A moça que vende melancia e velas

implora uma venda e sonha com mar.


O rapaz da gráfica que alinha as páginas

mesmo sem curtir o texto,

mas faz bonito — por ele e pelo trabalho.


Um casal lendo poesia no banco da praça,

ela em silêncio, ele com o olho fechado.


A criança que faz carinho no cachorro da rua,

com um cuidado que falta em tanto adulto.


Quem tenta entender a maldade que sofreu,

sem virar veneno também.


Quem agradece, do nada,

porque ainda existem belas poesias,

tipo as dos velhos Pessoa,  Bandeira ou de Barros.


E aquele que, no fim das contas,

prefere que o outro ganhe a discussão,

só para sentir  a paz durar mais cinco minutos.


Essa gente que nem se conhece,

mas estavam ali e acolá, vivendo, firmes, suaves  —

são os que estão segurando o mundo,

sem publicar nada nas redes sociais.

26.5.25

Santa Rita - Causas impossíveis


Hélio Consolaro

No catolicismo, cada cidade tem sua padroeira, ou padroeiro.

Araçatuba tem a Senhora Aparecida e os duros, lascados, Santa Rita, cuja capela fica na Praça São Joaquim.

O slogan dela é inclusivo, tudo que outros santos não resolveram fica com ela. Dizem os devotos que ela é muito atenciosa, Hoje é dia dela, e tem procissão!

Parabéns, vereadora!



Hélio Consolaro

A função de vereador deve ser exercida diuturnamente. Não há expediente burocrático. Pintou problema, alguém gritou o nome do edil, e ele aparece do nada. Assim Sol do Autismo agiu quando um deficiente físico foi impedido de embarcar em ônibus da TUA.

Para completar sua coerência, votou contra a subvenção de R$450 mil da prefeitura à TUA no projeto discutido pela Câmara Municipal de Araçatuba. Vereador bom (ou boa) tem cheiro de povo.

22.5.25

Tire o pé de minha aposentadoria


 Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatiba-SP

Lembro-me bem a briga que tive com meu falecido pai. Ele não queria pagar o INSS, para não ter o desconto, e eu ressaltava as vantagens de ter uma aposentadoria na velhice. A previdência pública estava começando. Após conseguir o empenho de todos os filhos, ele se convenceu e se inscreveu. Passou a pagar o carnê mensalmente.

Quando se aposentou, dinheirinho no bolso, pediu perdão a todos pela incompreensão daquela época. E assim, passou a viver de sua aposentadoria, que lhe garantia o sustento. Nesse momento do país, se milhões de aposentados não recebessem suas aposentadorias religiosamente, a economia se degringolava.

E o sistema foi crescendo. Algumas vezes piorava, outras, melhorava. Assim também fui organizando as minhas contribuições. Há as leis, mas há também as muitas possibilidades, vários institutos. Não basta apenas pagar, mas descobrir também as vantagens.

Para milhões de aposentados, aquela quantia mensal parece cair do céu. Não foi assim tão fácil, a sociedade, governo, todos os brasileiros se organizaram para ter uma previdência, principalmente pública. Ela é fruto de um Estado que se preocupa com o bem-estar de sua velhice.

Atualmente há uma gana para se pôr a mão na aposentadoria dos velhinhos, desde de parentes, filhos netos até advogados e políticos. Não contraia empréstimos consignados para socorrer parentes, grite logo, seja chato: tire o pé de minha aposentadoria.

Quando me aposentei,  o tal do BMG queria tomar conta de dinheiro, mas me neguei, transferi para meu banco de longa data. Este banco mineiro avança 

sobre o salário, não faz nada ilegal, mas se aproveita da simplicidade dos assegurados do INSS.  

Banco BMG é conhecido por seus produtos e serviços direcionados a aposentados, pensionistas do INSS e servidores públicos. O banco oferece empréstimos consignados, cartões de crédito consignados e outros produtos financeiros que se adequam à realidade e às necessidades desse público. Cuidado com a agressividade mercadológica. 

AS MINHAS APOSENTADORIAS

Não tive pressa para me aposentar, nem ficava contando os dias que faltavam. Nem sou patriota metido a besta. De repente, FHC foi fazer uma reforma da previdência (eu teria que trabalhar muito mais), apelei para a aposentadoria proporcional. No serviço público estadual me aposentei com 49 anos, pois havia começado a trabalhar como funcionário aos 16 anos.

Em 2013, me aposentei por idade pelo INSS. Então acumulo duas aposentadorias, todas pagas, sem maracutaia. Nesse tempo de contribuição à previdência federal, eu estava na função de jornalismo e professor da rede particular, e os oito anos como secretário municipal, pois a Prefeitura de Araçatuba não tem instituto de previdência, contribui com o INSS.  

Também não estou livre de ataques de golpistas aos 76 anos, fui conversar várias vezes com o gerente de minha conta bancária. Já movi ações judiciais. Nem todos aposentados brasileiros tem essa agilidade.  

Velhinhos e velhinhas que trabalharam tanto vivem perseguidos pela desonestidade. A tristeza é que esse povo malandro foi criado e educado por nós. 

Além de gritar não à anistia, também esbravejo: tire o pé de minha aposentadoria!          

14.5.25

Igreja dos puros


Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba  

Com a morte do papa Francisco e a eleição de Leão 14, o assunto religião está em evidência. Numa entrevista corrida, mostrada pela televisão, ouvi a expressão de que o atual chefe da igreja não quer construir uma igreja dos puros, mas quer mostrar todos os caminho da salvação.

Dizer  que as pessoas se reúnem numa congregação ou comunidade porque são puras, sem nenhum pecado, todas santas, é uma falácia. Esse modo de ver a igreja ficou esquecida na Idade Média. Esse negócio de que o Vaticano é isso ou aquilo, nem as igrejas evangélicas podem ser acusadas de qualquer coisa.  

Quem acompanha a comunidade são as mais pecadoras, estão procurando um caminho para viver melhor, não se isolam, preferem viver a fé coletivamente. As aflições das pessoas precisam ser uma preocupação das igrejas, por isso os cultos e ritos precisam ser menos burocráticos, mais participativos. 

Precisamos entrar na igreja de um jeito, participar de suas atividades e sair de lá melhor, mais alegres, mais otimistas. Na verdade, deve ser uma lição de autoajuda. Ajudar na caminhada, tornar  mais leve a cruz. Essa é a igreja dos impuros.

MÃE FANQUEIRA

Cronista caminhando com andador na calçada, uma espécie de fisioterapia. Passou no leito da rua uma moça bonita, morena,  com seu filho na bicicleta, usando uma forma aconchegante de carregar menino  numa magrela, quase segurando-o no colo. Não era escolar

Seria mãe, irmã ou tia daquela criaturinha? Vou optar por jovem mãe, mãe solteira. Aquela será uma criança  com visão positiva sobre mãe. Não importa que seja uma fanqueira, filho de pai não identificado. O importante é a criança ser amada.

FILHOS DA LIRA

Estive no lançamento do livro “ Os filhos da lira” de meu amigo e ex-aluno Daniel Freitas no Quintal Cultural, 04/05/2025, domingo. Nomes dos músicos de Araçatuba,  desde a fundação de Araçatuba, vivos ou mortos, constam da obra. Adquiri-lo é prestigiar a música de Araçatuba e região: 18 99772-0792. R$65,00


8.5.25

Anistia, nem geral e nem irrestrita


 

Hélio Consolaro*

A política brasileira sempre foi dirigida para o acordo e reconciliação, para não dizer para uma anistia.

A nossa independência foi proclamada pela família real portuguesa; que deveria ter sido expulsa das terras brasileiras.

A nossa república foi construída de forma esquisita. Um marechal monarquista foi o primeiro Presidente republicano.

Os políticos oposicionistas ao regime militar foram anistiados e voltaram ao Brasil; e os torturadores também foram perdoados.

Não se estranha se a anistia do recente golpe de estado (2023) não terminar de uma forma consensual. Tudo termina em pizza, mas é melhor terminar assim do que numa violência generalizada.

Como se daria a pizza atual. Congresso brasileiro por lei permite o Supremo Tribunal Federal amenizar as penas da arraia miúda que invadiu e quebrou os três poderes, deixando a punição graúda para os organizadores do golpe, como militares e políticos profissionais.

O papel do Presidente Lula será sancionar o grande acordão em forma de lei, sem perdoar os graúdos. Acreditam que assim nas eleições de 2026 o Brasil se torna pacificado. Duvida-se que os graúdos não sejam também perdoados. 

Fique de olho, acompanhe o noticiário.

MUDANDO OS PASSOS

Depois de muita coragem, resolvi mudar meus passos, em vez de pisar torto com minha perna direita, com palmilha e salto de compensação no sapato, me submeti a uma cirurgia. E feliz com o processo de recuperação fui com a Fátima comprar o sonhado tênis na melhor loja da cidade.

O vendedor, desconhecedor de história da humanidade, com certo menosprezo disse:

-Tem esse vietnamita. O pessoal está gostando...

O meu rosto se acende! Os vietnamitas superaram a guerra, estão com suas mercadorias pelo mundo. Lembrei-me do peixe pangaço, do qual gosto muito, mas chegaram à industrialização?

Pensei no tempo da guerra do Vietnã. Um tênis para eu voltar no tempo, na guerra e na paz. Aos 76 anos, voltei a ser aquele garoto que amava os Beatles e os The Rolling Stones e já detestava a guerra. Só faltaram os cabelos compridos e a guitarra. Infelizmente os norte-americanos continuam bélicos, matando a humanidade.

*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Membro das academias de letras de Araçatuba, Andradina, Penápolis e Itaperuna. 

28.4.25

O Safadão do Nordeste


Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor 

Quando este cronista nasceu, o Brasil saía de uma ditadura (Estado Novo) e depois veio outra, implantada pelo golpe militar de 1964. O Brasil vivia uma democracia cravada de períodos autoritários. Esta última (1964-85), comecei a contestá-la em 1969 na faculdade. Até me prenderam por subversão, participei da campanha das diretas, me elegi vereador (1983-88). Eu queria mesmo é votar para presidente! Não havia votado, só para cargos miúdos. 

Povo querendo votar para presidente. Aí surge nesse movimento um falso caçador de marajá na minúscula Alagoas que sempre contribui com cobras criadas para a política brasileira. Ultimamente, com um tal Arthur Lira. Fernando Collor de Mello encantou as mulheres com sua elegância, tinha uma vida de marajá, filho de família tradicional de Nordeste Brasileiro. 

Na verdade, o Safadão do Nordeste já era um prenúncio do bolsonarismo. A vitória de Collor organizou a política em cada município. Em Araçatuba, o oportunista foi Sidnei Cinti.  

Assim, a democracia brasileira começa de forma arlequinal, carnavalesca. Fiz a campanha do Lula, mas o caso de amor de Lula, antes do casamento, a Miriam Cordeiro, tirou o operário do páreo. Atualmente tivemos presidente com três mulheres, e as três se orgulhavam do sobrenome. 

Em 1991, após o golpe nas cadernetas de poupança, eu já estava gritando Fora Collor nas ruas de Araçatuba com cornetas em cima de um fusca. Eu também militava na política sindical. 

De repente, surge denúncia do irmão Pedro, a corrupção praticada por PC Faria e a avalanche dos caras pintadas. Nem precisa contar como terminou: impeachment e renúncia. Mais um vice assume: Itamar Franco

QUEM MATOU A ONÇA?

A onça que atacou um caseiro no interior de Mato Grosso do Sul não deve voltar à região de mata onde foi capturada. O felino está sendo tratado no Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (CRAS), em Campo Grande (MS), e, posteriormente, deverá ser encaminhado para um recinto provisório ou definitivo, a ser definido pelo governo. CORREIO DO ESTADO, 28/04/20252

 Blog do Consa vai assumir a defesa da onça: atacou em legítima defesa. Ela ficou sem habitat natural, enfraqueceu-se e saiu como doida atrás de comida. Por obra da natureza matou e comeu um representante do seu agressor: um ser humano.

Certamente, a onça ajoelhou-se e agradeceu a Deus: obrigado por me mandar comida. O caseiro certamente fez seu pedido lamentoso, mas não foi ouvido. E ouvir uma voz cavernosa dizer: chegou a sua hora de destruidor morrer.