Peixes podem se afogar? Apesar de parecer
impossível, a resposta é sim. E as mudanças climáticas podem tornar isso
mais comum. IA
Hélio Consolaro é professor, jornalista e
escritor. Araçatuba-SP
Há gente, por interesse (ou ignorância), que não adota o
termo mudança climática. Negam.
Os partidários da terra plana têm horror ao termo “mudança
climática”, que carrega uma carga semântica ideológica. Não acreditam que o ser
humano esteja depredando o planeta. A desgraça acontece por obra de Deus, não
há remédio. Se não chove é só fazer promessa para São José. São os negacionistas
do meio ambiente.
Com esse significado para o termo "mudança
climática", os grandes proprietários continuam destruindo o planeta sem
nenhum limite ou punição: apodrecer os rios, envenenar a Terra com agrotóxicos.
Deus deixou a Terra para o homem dominar, ou melhor, destruir.
Os ovos estão proibitivos ao preço que chegaram, as
galinhas, com tanto calor, já não botam tanto em série. Devido ao clima, não há
milho para todas. Na verdade, nos transformamos em exploradores vorazes dos
galináceos. O pouco de ovos que sobrou no Brasil, o Trump ofereceu um dinheirão
por eles, assim os granjeiros preferem vendê-los aos norte-americanos.
O café, que não se trata de alimento de primeira
necessidade, é mais um costume, uma tradição, vem caindo sua produção devido às
mudanças climáticas desde 2021. A falta de água é considerada o pior
dano para a lavoura.
Vietnã, grande produtor de café, enfrenta dificuldades
para encontrar terras adequadas para aumentar a produção. A seca no Vietnã
afeta a produção local e pressiona o preço global dos grãos.
Já estávamos com dois problemas, agora surgiu o terceiro. Os
peixes estão morrendo afogados! Como? De tanto a gente jogar merda nos rios e
córregos, de excesso de agrotóxicos na plantação, os peixes não
resistem. Nem café, nem ovos e nem peixes, em plena quaresma. A mudança
climática vai nos matar de fome.
Não estou falando lá de longe, o meu cenário é a região
Noroeste do Estado de São Paulo, o rio Tietê, a granja Katayama, a torrefação
de café Brasil. Até outro dia não se negava água para ninguém, hoje vender água
é um grande negócio.
Se não der para comer peixe na Semana Santa porque até o curimbatá
está envenenado. Reze assim mesmo, porque o grande culpado dessa desgraça não é
Deus, somos nós mesmos, os seres humanos.
A profecia do velho pajé Tamãi, personagem do livro “Apenas
um curumim” já está se concretizando: “Dia virá em que caraíbas ficarão com sede, muita
sede, e não terão água para beber: os rios e lagoas e valos e regatos e até a
água da chuva estarão sujos e podres. E chorarão. E continuarão com sede porque
a água do choro é salgada e amarga...” (Werner Zotz)